Em 2013, um grupo de amigos resolveu se reunir para conversar sobre tradução. Uma ideia leva a outra e, em novembro daquele ano, nasceu o I Café com Tradução. Apesar de ser um evento “inédito”, as vagas se esgotaram rapidamente. Há exatamente um ano, em abril de 2014, o auditório do II Café com Tradução também estava lotado com estudantes e iniciantes na área.
André Faure abriu o dia falando sobre localização de jogos. Ele enfatizou as qualidades necessárias para um tradutor em geral, e de games em particular: estudar, pesquisar, conhecer a linguagem “gamer”, usar CAT tool (impossível manter a coerência terminológica de milhares de itens sem isso), prestar atenção aos detalhes e às especificações do cliente. Contou casos de sucesso e fracasso, além de várias curiosidades. Você sabia, por exemplo, que a indústria de jogos movimenta muitos bilhões de dólares por ano e a previsão é chegar a 100 bilhões em 2017? Nas palavras do próprio André, “localizar jogos é divertido, mas não é brincadeira”.
Em seguida, eu falei sobre CAT tools. Como a maioria dos cursos de tradução enfatiza as disciplinas teóricas, os alunos acabam com pouco ou nenhum conhecimento dessas ferramentas essenciais, não só por serem exigidas pelos clientes-agência como por serem primordiais para a produtividade do tradutor profissional, para a uniformidade terminológica dos projetos e para trabalharmos com formatos “exóticos” que nem sempre podem ser abertos no MS Word. Apresentei as características básicas, os tipos principais, seus prós e contras e as principais ferramentas do mercado. Aconselhei os participantes a instalar a versão demo e experimentar quantas puderem, porque não existe uma ferramenta ideal ―a melhor ferramenta é aquela que melhor se adapta ao tradutor e a cada projeto.
Depois do coffee break, Ricardo Souza abordou um tema importante para nosso dia a dia: a relação entre tradutores e agências. Enfatizou que mesmo as agências que pagam menos podem ser uma porta de entrada no mercado para tradutores inexperientes, que têm supervisão, revisão e feedback e, assim, podem aprender muito em alguns meses de trabalho como profissionais internos. Ricardo recomenda parar com as reclamações e trabalhar em conjunto com o cliente, oferecendo o “algo a mais” que vai fazer com que ele seja fiel e passe a procurar você, não outro tradutor. Lembrou que existem outros fatores além do preço na hora de decidir aceitar ou não um projeto e que nem toda agência paga mal.
Na sequência, Adriana Machado falou sobre os tipos de interpretação: simultânea, consecutiva, sussurrada, acompanhamento e “consecutânea”, um híbrido de consecutiva e simultânea. Explicou as características de cada uma e ressaltou a necessidade da profissionalização, porque a interpretação tem técnicas que exigem extenso treinamento e regras que precisam ser seguidas, inclusive com relação a valores cobrados, limite de horas trabalhadas e a necessidade de trabalhar em dupla em determinadas situações. No fim, a Adriana demonstrou técnicas de anotação para consecutiva e o equipamento que usa para consecutâneas.
Photo Credit: Café com Tradução I (2013)
Na volta do almoço, Filipe Alverca falou sobre as vantagens de se filiar às associações de tradutores: reconhecimento como profissional, certificações, descontos diversos e visibilidade nos diretórios de cada entidade. Filipe discorreu sobre a ATA, a FIT e o Sintra, depois passou a palavra a Ana Iaria, da diretoria do ITI, e a William Cassemiro, representante da Abrates no congresso. Todos ressaltaram um mesmo ponto: uma associação só é forte e representativa se tiver membros ativos.
Depois, Ágata Sousa contou sua experiência como workaholic e como está conseguindo organizar seu tempo para trabalhar, produzir e ganhar dinheiro sem abrir mão de passeios, hobbies, amigos e família. Indicou alternativas como as técnicas Pomodoro, Getting Things Done (GTD), gamificação e opções de software para restringir o acesso às distrações online (principalmente as redes sociais), como o RescueTime.
Em seguida, Beatriz Figueiredo apresentou outro ponto de vista: as redes sociais pode ser extremamente benéficas, se usadas com planejamento e bom senso. Mostrou como definir estratégias de atualização de perfil e publicações com base no público-alvo (colegas, clientes-agência ou clientes diretos), na finalidade desejada (presença online, networking, aprendizado ou socialização) e no tempo disponível.
Na última palestra do dia, Petê Rissatti explicou as diversas fases da edição editorial. Comentou quem faz o que em cada etapa do processo e por que às vezes, mesmo com tantas revisões, um livro pode ser lançado com erros. Mostrou ainda o que os editores consideram características de um bom tradutor: cumprir prazos, conhecer profundamente os idiomas de trabalho, ser curioso e atencioso, respeitar o estilo do autor e diferenciá-lo das peculiaridades da língua.
Por fim, Adriana Machado, Ana Iaria e Yasmin Fong, organizadoras do evento, falaram sobre a Tradwiki, projeto colaborativo muito interessante e promissor que se propõe a centralizar informações sobre todos os aspectos da tradução, e sortearam diversos brindes.
Foi um domingo extremamente agradável, com participantes interessados e conversas excelentes, dentro e fora do auditório. Participei das duas edições e aguardo o evento deste ano!
VAL IVONICA é química industrial por formação, tradutora inglês-português há quase 10 anos. Geek assumida, macqueira convertida e fã de tecnologia e novidades. Trabalha quase que exclusivamente com o memoQ, mas usa outras ferramentas dependendo do projeto da vez. Converter arquivos e projetos é uma das especialidades da casa. Começou a palestrar em 2010 e pegou gosto pela coisa.
NOTA DA EDITORA: O Café com Tradução está se preparando para o próximo evento, a ser realizado em agosto e dedicado à tradução de vídeogames. Mais informações no cartaz abaixo (clique para ampliar) ou no site oficial do evento.
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