Érika Lessa –
Muitos se arrepiaram ao ler o título desse post. Confesso que até eu mesma senti um certo desconforto ao escrevê-lo. E o que normalmente fazemos com aquilo que nos incomoda? Deixamos para lá, como uma nota fiscal antiga, que já não se precisa mais guardar. Jogamos no fundo daquela gaveta enquanto pensamos: “Depois eu vejo isso.”
Assim fazemos com outras tantas coisas da vida (e da morte!). Esperamos que o tempo se encarregue de resolvê-las.
Às vezes até funciona. Só que contar com a sorte para a única certeza que se tem na vida, não me parece das coisas mais inteligentes a se fazer.
Sendo assim, caro colega, eu pergunto: a quantas anda seu cabedal burocrático? Está tudo organizado em pastas, divididas por títulos, itens, datas? Ou está tudo socado em gavetas escondidas naquele armário (ou quarto!) da bagunça?
Se você escolheu a primeira opção, pode parar a leitura por aqui. Agora se a sua opção é a segunda, sente-se confortavelmente e continuemos nosso colóquio.
Uma coisa que sempre me perguntei é: por que nos incomoda tanto pensar na morte, a ponto de nem querermos falar sobre ela? Sei que há inúmeras razões de ordem religiosa, espiritual e emocional para isso, mas minha questão é: por que não nos preparamos para a única certeza dessa vida? Não sei você, mas minhas desculpas sempre transitaram no âmbito do “E se alguém descobrir minhas senhas e surrupiar meus trocados?” e “Credo, pra que isso? Ainda tenho muito tempo”.
A verdade é que para morrer basta estar vivo. Para adoecer também. E sofrer um acidente. E mil outras coisas que não me ocorrem agora. Digamos que este último aconteça e você tenha projetos a entregar: seus familiares saberiam a senha do computador para acessar seu trabalho? E se estes familiares precisarem ter acesso à sua conta corrente justamente para custear seu tratamento, ou ainda quitar uma dívida mais premente, ou mesmo pagar um colega que o ajudou em um projeto? O plano de saúde, caso o tenha, não cobrirá determinados gastos. Isso sem contar qu,e com a sua inatividade compulsória, a renda familiar diminuirá consideravelmente.
Quero deixar claro que não fico aqui meditando sobre questões do céu e da terra, tendo insights e escrevendo textos pseudo-filosóficos. O que digo é fruto de observações empíricas recentes e espero que ninguém tenha que passar pelos mesmos quiproquós para tomar algumas atitudes.
Sendo assim, tenho algumas sugestões para facilitar a sua vida e a de seus entes queridos depois da sua partida.
- Deixe um testamento: Parece coisa de gente muito rica, que só vemos em novela, mas qualquer um pode fazer e especificar quem fica com o quê. Mesmo que seja pouca coisa. Facilita a vida de quem fica e há de garantir um sossego post-mortem também (imagina se os herdeiros resolvem se digladiar por causa daquela casinha na praia);
- Faça uma pasta com as suas senhas (contas de redes sociais, e-mails e das contas bancárias também): essa é de arrepiar os cabelos da nuca, eu bem sei. “Tá louca?! Das minhas contas bancárias?!”. É uma mão na roda, se você puder confiar nos que te cercam. Se não puder, faça a lista com o nome dos bancos onde tem contas. Outra com todos os seus bens também é interessante. Evita o inconveniente de um inventário judicial.
- Mantenha os seus documentos em dia: Escrituras, certidões, apólices, bem como suas cópias autenticadas (caso as tenha) devem estar em uma mesma pasta, em um mesmo compartimento (gaveta, armário etc.).
E você? Tem alguma ideia que possa ser posta em prática nesse sentido? Não sou nenhuma especialista em questões jurídicas ou afins. As sugestões são apenas coisas que aprendi recentemente. Se houver alguma ideia relevante, faça um comentário no post.
Só não deixe a organização para depois. Pode não dar tempo.
Érika Lessa is PLD’s Assistant Division Administrator. She is a conference interpreter who also loves translating, and truly believes one complements the other. She has worked in different sectors of the industry, including humanities, marketing, software and game localization. As an interpreter, she is proud to have worked at international events such as Rio +20 and a Bill Clinton visit to her hometown, Belém. She now lives in Toronto, where she completed a Master’s program in Conference Interpreting at York University. After hearing at the 2014 PLD annual meeting that they wanted help, she decided to share some of her time and talents to help strengthen the Division.
Leave a Reply