
Photo Credit: Roberta Barroca
Roberta Barroca
“Quem não se sentir à vontade com o uso de palavrões, fique à vontade para se retirar da sala.” – avisou a palestrante umas três ou quatro vezes ao início de sua apresentação.
Em uma sala lotada de brasileiros e estrangeiros, apenas uma pessoa se retirou ao sentir que o conteúdo da apresentação seria um tanto “pesado” (para usar de um belíssimo eufemismo). Assim como a palestrante o fez, aproveito para alertá-lo agora sobre o conteúdo desta matéria: palavrões, xingamentos e gírias estão por vir, caso contrário eu não faria jus à sessão “(Quase) Tudo o que você nunca ouviu na casa da mamãe” apresentada pela hilária colega de profissão Cris Silva na ATA 57th Annual Conference em São Francisco.
A sessão começa com um certo frio na barriga tanto por parte tanto da oradora como da plateia. Afinal, abordar o assunto de gírias e palavrões em um evento do porte e importância como o da ATA poderia ser um sucesso ou fracasso total. A Cris muito sabiamente abre a palestra com definições, teorias e pesquisas a respeito do tema. Ela compartilha uma pesquisa realizada pela professora Valeska Zanello, do Departamento de Psicologia Clínica da Universidade de Brasília (UnB). Nessa pesquisa, a professora fez um levantamento sobre quais são os xingamentos mais ofensivos atribuídos a mulheres e homens. De acordo com o estudo, se você não quiser perder amigos, jamais chame uma mulher de PUTA e não se atreva a chamar um homem de VEADO, pois esses são os palavrões campeões em termos de ofensividade.
Depois, a corajosa palestrante comentou uma teoria neuro-psico-social sobre o uso de palavrões, redigida pelo psicólogo e especialista em xingamentos Dr. Timothy Jay. Segundo essa teoria, há várias razões pelas quais usamos palavras de baixo calão em nossos discursos e, dentre elas, está o efeito catártico.
Efeito catártico:
“liberação de emoções ou tensões reprimidas,
comparável a uma ab-reação”
(Houaiss & Villar, 2001: 651)
Photo Credit: Roberta Barroca
Acredito eu que a oradora queria mesmo causar uma catarse e, para tal, propôs um exercício de transcriação com o intuito de observar os efeitos e impactos de traduzir conteúdos carregados de termos quase impublicáveis. Os participantes foram então divididos em grupos e cada grupo recebeu um texto para traduzir, ou melhor―para transcriar. Os textos eram recheados de palavrões suculentos, gírias moderníssimas e expressões carregadas de potencial visual. Dentre os textos, havia inclusive um diálogo do “Porta do Fundos”, canal do YouTube muito famoso no Brasil por ser politicamente incorreto e deveras engraçado. Digo, engraçado pra CARALHO!
Os grupos se separaram e a brincadeira começou. Chamo de brincadeira porque aquela sessão de uma hora passou em um piscar de olhos. Havia pessoas sentadas no chão, risadas incontroláveis, sorrisos estampados e novas amizades de infância sendo construídas ali. Aparentemente, o uso de palavrões e gírias tem mesmo o poder de unir as pessoas quando usados sem a intenção de ofender e sim para dar um tom cômico a uma interação. Quando o tempo para a transcriação acabou, os grupos foram até a frente da sala para a apresentação dos textos traduzidos. Nesse momento, a sala se tornou palco para aspirantes a comediantes mostrarem todo seu talento. E quanto talento reunido! A plateia foi à loucura, as gargalhadas eram profundas e sinceras. Só o pessoal da sala ao lado é que não deve ter gostado da nossa sessão por causa do barulho. Contudo, para quem teve a sorte de abrir o livreto da conferência e escolher participar da sessão“(Quase) Tudo o que você nunca ouviu na casa da mamãe” levará consigo memórias hilárias de uma PUTA sessão FODA da moça que QUEBRA TUDO na zumba e na tradução: Cris Silva. LACROU GERAL!
ROBERTA BARROCA ― Formada em jornalismo, mas há quase dez anos se dedica unicamente à tradução e interpretação de conferências na combinação linguística inglês/português. Intérprete associada à International Association of Conference Interpreters (AIIC) e à Associação Americana de Tradutores (ATA).
Leave a Reply